domingo, 19 de março de 2017

Crítica: Olhar Instigado, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Eleito como novo prefeito de São Paulo, João Doria declarou guerra contra os grafiteiros e pichadores da cidade, ao ponto de cobrir inúmeras obras de arte com tinta cinza e gerando inúmeros protestos pela cidade, e pelo Brasil. Agindo dessa maneira, Doria dá entender que não compreende o pensamento do jovem contemporâneo, que se expressa através da escrita e os dos desenhos que estão nas paredes da cidade. Devido a esses últimos eventos, vistos na cidade de São Paulo, é impressionante como o documentário Olhar Instigado acaba tendo um papel relevante nesse momento e dando voz para os artistas incompreendidos.

Dirigido por Chico Gomes e Felipe Lion, o filme acompanha a cruzada de três artistas de rua, em diferentes registros cotidianos: Bruno Locuras faz pichações em prédios e pontes, Alexandre Orion efetua grandes painéis artísticos misturando pintura e colagem e André Monteiro, conhecido como Pato, combina o grafite com esculturas interativas. Em comum, os três procuram dizer alguma coisa em suas atividades, mas ao mesmo tempo, colocando um pouco de vida em um cenário moldado com enormes concretos pálidos e sem nenhum significado.

Se a pessoa for assistir ao documentário sem saber do que se trata exatamente, ele pode se surpreender no início, já que os cineastas foram engenhosos ao retratar um dos protagonistas na penumbra da noite e fazer com que nós não tenhamos certeza do que realmente está acontecendo. Gradualmente, vamos sendo apresentados aos três protagonistas, cuja suas narrações se casam com as cenas do dia a dia, onde eles fazem de tudo para colocar o trabalho deles nas paredes da cidade, nem que para isso corram o risco de serem presos. Bruno Locuras, por exemplo, é o que mais se encontra na corda bamba, mas não mede esforços para se expressar em suas pichações, defendendo o fato de que as ruas pertencem ao povo, onde fazem o que bem entender, dizer o que pensa e se expressar com relação ao mundo de hoje.

O grande destaque fica por conta do belo painel, que Alexandre Orion cria em um prédio. Primeiro ele desenha a figura de um menino em um quadro, para logo depois construir gradualmente essa imagem na grande parede de concreto e fazendo com que o ambiente do local ganhe um novo significado. Isso se fortifica com as palavras de uma moradora de uma comunidade, tentando enxergar o mural de Orion apesar da vista bloqueada por uma palmeira. Ela discursa sobre a beleza da imagem, a capacidade de representar seu cotidiano e a maneira como a obra de arte transforma o horizonte de um bairro pouco contemplado pelas políticas públicas. É nesse momento que o longa-metragem mostra a que veio, pois se há aqueles que criticam os pichadores ou grafiteiros, acusando-os de estarem poluindo a imagem da cidade, pelo menos existem pessoas que reconhecem o esforço desses jovens que procuram um sentido na vida, através de suas artes e pensamentos inseridos nelas.

Olhar Instigado tem muito a dizer sobre esses artistas da cidade de São Paulo, cujo seus empenhos fazem com que eles lutem contra maré, mas ganhando o merecido reconhecimento, por parte de um olhar mais tolerante de nossa sociedade.


Trailer

Fonte: www.youtube.com

Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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