segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Crítica: A LOUCURA ENTRE NÓS, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Após a década de 80, a saúde mental no Brasil teve grandes avanços com o surgimento da CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) para tentar extinguir os maus tratos e a política de prisão silenciadora dos manicômios. Mas, infelizmente os mesmos ainda não foram totalmente limados, devido a uma série de interesses de empresários, políticos corruptos e, principalmente, da indústria farmacêutica que vive das custas de pacientes. Em sua estreia como cineasta, a diretora Fernanda Fontes Vareille cria nesse documentário, de pouco mais de uma hora, uma câmera que representa a sua visão pessoal sobre o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira (fundado em 1892).

Por vários anos o doente mental foi retratado no cinema, fotografia e outras artes, como alguém que tem que viver em lugar fechado, estereotipado, desacreditado, com sintomas muito mais latentes devido aos efeitos adversos das medicações fortíssimas e terapias desumanas, como eletrochoque e lobotomia, do que pela própria doença. Porém, no filme, Vareille consegue mostrar a realidade da clausura de forma crítica, apontando os vícios do sistema e, principalmente, sua ineficiência.

Em A loucura entre nós são discutidos temas pertinentes a realidade das pessoas institucionalizadas, como a autonomia que lhes é tirada no momento em que passam a viver num hospital, as dificuldades da família para o cuidado, agravada principalmente pela falta de conhecimento sobre o assunto e pela própria situação financeira vulnerável; o impacto das medicações diárias e vitalícias na vida dos pacientes; a subjetividade de cada um; o aspecto questionador da loucura – a medida que se passa a não mais fazer questão de seguir as convenções sociais – e, principalmente, humaniza a figura do doente através de suas vozes, canções, expressões e histórias de vida.

Os personagens reais do documentário revelam seus anseios, desejos e delírios de forma muito honesta, levando o espectador a questionar o que é a loucura e quais os impactos negativos do modelo asilar para o interno. As personagens mais fortes são as femininas que norteiam o filme de forma marcante; alegre ou muito dolorosa, às vezes até fatais. Essa delicadeza do universo feminino, concomitante, com a força e fibra delas é o marco da narrativa. A fotografia é crua, onde a câmera é um personagem revelador, ela inspira confiança aos depoentes que a usam como um espaço para verbalizar suas angustias, desejos e alegrias. As grades do Juliano Moreira são palco de vários depoimentos espontâneos.

Infelizmente, os manicômios ainda são uma realidade e enquanto eles existirem, o tratamento psicossocial não alcançará sua máxima potência, por isso, esse filme é de extrema importância, principalmente nesse momento de tantos retrocessos políticos e econômicos para a saúde mental no Brasil.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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