sábado, 25 de junho de 2016

Crítica: PAULINA, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Ao me perguntarem sobre o que eu acho em relação ao aborto? Eu responderia que sou contra, mas a favor de uma legalização, visando principalmente acabar com as clínicas clandestinas, que infelizmente todos os anos prejudicam ou até matam inúmeras jovens no Brasil. A falta de leis mais severas acabam difundindo a cultura do estupro em nosso país, surgindo assim o machista, que por si só é desprovido de intelecto suficiente para entender o quanto isso é grave. Se o nosso cinema atual ainda não focou no tema, eis que o cinema Argentino lança ‘Paulina’, um filme mais atual do que nunca.

Paulina (Dolores Fonzi) possui um futuro promissor na área da advocacia, mas ao invés de segui-la, prefere dar aulas para alunos de uma região pobre da Argentina e indo contra os desejos do seu pai (Oscar Martinez) que é um Juiz poderoso. Contudo, numa determinada noite na estrada, Paulina é pega e estuprada por um grupo de jovens da região. A protagonista, porém, não recua e continua seu trabalho na escola, mas com a possibilidade de estar dando aulas para os seus próprios algozes.

Dirigido por Santiago Mitre (Leonera), o cineasta nos brinda com um belo ‘plano sequência’, onde acompanhamos o dialogo entre pai e filha e os desdobramentos que irão acontecer através dessa conversa. Já no cenário dos acontecimentos, o cineasta é hábil em apresentar os dois núcleos da trama, dos quais ambos irão se colidir numa fatídica noite. Para a apresentação de ambas, o cineasta tem a proeza de retornar em duas cenas, das quais enxergamos por outra perspectiva e descobrimos os verdadeiros fatos das ações de determinados personagens. Mas por mais que Mitre nos apresente a sua forma construtiva de filmar, é no roteiro e na estupenda atuação do elenco é que mora a alma do filme, ao começar pela protagonista Paulina: interpretada por uma intensidade assombrosa pela atriz Dolores Fonzi, Paulina é uma rocha em relação no que acredita, principalmente com relação às leis dos direitos humanos, mesmo tendo participado de uma experiência horrível e que poderia mudar a sua forma de pensar. Com um olhar que mais parece um oceano infinito, Dolores Fonzi passa todo o conflito interno que a sua personagem percorre, mas ao mesmo tempo demonstrando convicção e o desejo de seguir em frente, mesmo com a possibilidade inevitável de mudanças em seus planos de vida futuramente.

O ‘pai juiz’, sendo interpretado com intensidade pelo ator Oscar Martinez, é uma espécie de outro lado da mesma moeda. Embora pai e filha pertencerem ao mesmo mundo com relação às leis criadas por uma democracia, ambos as interpretam de formas diferentes. Se por um lado Paulina prefere acreditar na coerência das leis que defendam os direitos humanos, por outro, o seu pai usa o poder de juiz para praticar a justiça com as próprias mãos. Ambos em cena dialogando é a força matriz do filme, já que ali há um confronto entre ação e razão, ao qual nos faz compreender ambos os lados e assim fazendo a gente pensar até que ponto as leis atuais podem ser exercidas de uma forma mais justa. Com um final poderoso e que deixa em aberto às inúmeras possibilidades sobre o futuro da protagonista, Paulina talvez venha a ser o filme mais universal no momento, pois ele toca na ferida de inúmeras questões, mas que infelizmente muitos preferem não compreender e sim abraçar uma ação rápida e intolerante.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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