domingo, 12 de abril de 2015

Do micro ao macro espaço: sobre as formas de se viver.

Em abril, a Sala Redenção – Cinema Universitário apresenta uma programação que fala sobre nossas relações com os espaços em que habitamos. Desde os mais íntimos, como nossas casas, até os mais densos e coletivos, como as ruas e as cidades, todos os espaços possuem histórias e atuam diretamente sobre o nosso jeito de viver, enxergar e reagir à vida. Seja falando de arquitetura em pequena escala ou de urbanismo, as projeções feitas por profissionais ou por quem de fato habita os espaços alteram ou até mesmo moldam nossa rotina de forma que é quase impossível pensar a vida sem o ambiente na qual ela acontece. Nada mais natural então do que termos esses reflexos projetados na tela do cinema: a arte representando e criando a vida. É para problematizar essas questões que a mostra Do micro ao macro espaço: sobre as formas de se viver se propõe. O que podemos extrair para reflexão e transformação de nossa própria realidade projetada na tela?

Selecionamos filmes nos quais o espaço construído e a arquitetura são apresentados como personagens ou como cenários determinantes para o desenrolar da trama. Espaços que não são meros panos de fundo, mas interagem com a história de forma a criarem uma dependência e uma valorização do projeto arquitetônico ou urbanístico no qual a história se insere.

Essas interações são óbvias, mas nem sempre nítidas em nossas vidas. Quando, no entanto, transportamo-nas para as telas, elas se tornam evidentes. É o caso do filme Medianeras (2011) de Gustavo Taretto, em que os personagens principais adquirem problemas físicos e emocionais em virtude do espaço que dispõem para habitar. De tão acostumados com microespaços (seus apartamentos), sentem fobia dos grandes ambientes, e acabam perdendo a capacidade para relações sociais. Relações essas que são quase obrigatórias na sociedade em que vivemos, condensada em apartamentos ou apertada em casas sem jardins. Nessa ‘’obrigatoriedade’’ de interações, podemos nos deparar com as mais diversas atitudes alheias. Essas tensões, relações e conflitos oriundos da alta densidade nas cidades podem ser vistas no filme O Homem ao lado (2009), de Mariano Cohn e Gastón Duprat, que nos interroga sobre qual o limite que podemos impor aos nossos vizinhos, e qual o limite que ainda temos de intimidade dentro de nossas próprias casas. Ainda sobre essa temática, veremos em O som ao redor (2012) de Kleber Mendonça Filho, a construção dos nossos micromundos, 25 sejam eles criados em condomínios fechados ou nas nossas ruas.

Se por um lado temos personagens que consegui­ram construir suas habitações e, por consequência, tiveram que aprender a viver coletivamente em grandes metrópoles, por outro, vemos os impactos na vida daqueles que crescem em locais sem organização ou planejamento. Como é o caso de Squat, la ville est à nous (2011) de Cristophe Coello, em que a especulação imobiliária inibe o direito à moradia para favorecer ambientes comercialmente promissores, deixando a dignidade humana atrás do lucro. Sempre na busca pelo equilíbrio entre qualidade de vida (como reflexo de um bom projeto) e lucro, temos a figura do arquiteto. Muitas vezes esse profissional se encontra em situações de escolha que mudam e influenciam a vida das pessoas. Nesse jogo de estratégias arquitetônicas é inevitável passarmos por temas como respeito e ética. De forma mais sarcástica, veremos o valor coletivo dado para a arquitetura em Fogo e paixão (1988) de Isay Weinfeld e Marcio Kogan. Além disso, é quase indissociável à pratica profissional o gosto pela estética, a busca pela beleza e a atenção pelos detalhes. No filme de Jean-Luc Godard, O desprezo (1963), perceberemos o valor e a diferença da arquitetura funcionando como filtro, como catalisador de relacionamentos. O resultado é um filme em que cada cena tem uma atenta composição em termos de cor, proporção e contraste.

A capacidade quase única de criação e questionamento será vista nos filmes A espuma dos dias (2013) de Michel Gondry, no mágico Meu tio (1958) de Jacques Tati e no clássico Metrópolis (1927) de Fritz Lang.

Do micro ao macro espaço: sobre as formas de se viver é um convite para reflexão e, também, uma pausa – ativa! – para podermos olhar aonde e como estamos vivendo. Afinal, somos todos, de alguma forma, arquitetos do nosso cotidiano.

Ricardo Curti*, curador convidado.

* Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela UFRGS. Em 2011, foi bolsista da Sala Redenção – Cinema Universitário, tendo como últimos trabalhos a participação na equipe de produção da 9ª Bienal do Mercosul em 2013, e produção do CINE ESQUEMA NOVO 2014.


O Quê: Do micro ao macro espaço: sobre as formas de se viver

Quando: 15 a 30 de abril

Onde: Sala Redenção – Cinema Universitário (Rua Eng. Luiz Englert, s/n., Campus Central UFRGS

Quanto: Entrada Franca


A espuma dos dias (L’écuma des jours, França, 2013, 120 min) dir. Michel Gondry

15 de abril – quarta-feira – 16 horas

23 de abril – quinta-feira – 16 horas

Colin (Romain Duris), um jovem rico e inventor do cocktail-mixing piano, quer se apaixonar. Com a ajuda de seu cozinheiro Nicolas (Omar Sy) e de seu melhor amigo, Chick (Gad Elmaleh), ele conhece Chloe (Audrey Tautou), com quem se casa. Mas logo após seu casamento, Chloe fica doente. Ela tem um lírio de água crescendo em seu peito. Arruinado por despesas médicas, Colin recorre a métodos cada vez mais desesperados para salvar a vida da amada.


Fogo e paixão (Brasil, 1988 90 min) dir. Isay Weinfeld e Marcio Kogan

15 de abril - quarta-feira – 19 horas

16 de abril - quinta-feira – 16 horas

Um grupo de pessoas passeia por uma grande cidade. Em seu retorno para casa, o japonês chamado Kankeo, um dos turistas, mostra o vídeo do passeio para um grupo de amigos. Uma comédia sofisticada e divertida, que conta com uma galeria de personagens estranhos.


11 de Setembro (11’9’’01 September 11, EUA, 2002, 11 min) dir. Sean Penn

Curta extraído da reunião de curtas sobre o atentado. Um retrato do 11 de setembro por meio da vida de um policial aposentado, que vive num apartamento precário, às sombras do Word Trade Center.

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Medianeras (Argentina, Espanha, 2011, 95 min) dir. Gustavo Taretto




16 de abril - quinta-feira – 19 horas

17 de abril - sexta-feira – 16 horas

Martin (Javier Drolas) está sozinho, passa por um momento de depressão e não se conforma com a maneira como a cidade de Buenos Aires cresceu e foi construída. Web designer, meio neurótico, pouco sai e fica grande parte do tempo dentro de casa. É através da internet que conhece Mariana (Pilar López de Ayala), sua vizinha, arquiteta, também solitária e desiludida com a vida moderna numa grande cidade.


Meu tio (Mon oncle, França, 1958, 120 min) dir. Jacques Tati

17 de abril – sexta-feira – 19 horas

20 de abril - segunda-feira – 16 horas

Meu Tio é um filme que resume muito bem a arquitetura e a cidade de meados do século XX, pelo menos em ambas extremidades mais reconhecíveis. O filme de Jacques Tati mostra o contraste entre dois mundos, duas formas de viver e compreender a cidade além da arquitetura que no final dos anos 50 iria se sobrepor violentamente.


Metrópolis (Metropolis, Alemanha, 1927, 153 min) dir. Fritz Lang

20 de abril - segunda-feira – 19 horas

22 de abril - quarta-feira – 16 horas

No futuro, a sociedade de Metrópolis está dividida em dois grupos: os trabalhadores, que vivem debaixo de terra e fazem as máquinas funcionar e a classe dominante que vive à superfície.


O desprezo (Le Mépris, França, 1963, 100 min) dir. Jean-Luc Gordard

23 de abril - quinta-feira – 19 horas

24 de abril - sexta-feira – 16 horas

O produtor de filme americano Jeremy Prokosch (Jack Palance) contrata o respeitado diretor austríaco Fritz Lang (interpretando por si mesmo) para dirigir uma adaptação cinematográfica da Odisseia de Homero. Insatisfeito com o tratamento de Lang do material como um filme de arte, Prokosch contrata Paul Javal (Michel Piccoli), um romancista e dramaturgo, para retrabalhar o roteiro.


O homem ao lado (El hombre al lado, Argentina, 2009, 110 min) dir. Mariano Cohn e Gastón Duprat

24 de abril - sexta-feira – 19 horas

27 de abril - segunda-feira – 16 horas

Leonardo (Rafael Spreguelburd) é um designer industrial que vive com a esposa Anne, a filha Lola e a empregada Elba. Eles moram na única casa feita na América pelo famoso arquiteto Le Corbusier, localizada na cidade de La Plata. Eles levam uma vida tranquila até o início das obras em uma casa adjacente, onde o vizinho (Daniel Aráoz) resolveu fazer ilegalmente uma janela que dava para sua casa.


O som ao redor (Brasil, 2012, 100 min) dir. Kleber Mendonça Filho




27 de abril - segunda-feira – 19 horas

28 de abril – terça-feira – 16 horas

A vida numa rua de classe-média na zona sul do Recife toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece a paz de espírito da segurança particular. A presença desses homens traz tranquilidade para alguns, e tensão para outros, numa comunidade que parece temer muita coisa. Uma crônica brasileira, uma reflexão sobre história, violência e barulho.


Não por acaso (Brasil, 2007, 100 min) dir. Philippe Barcinski

28 de abril – terça-feira – 19 horas

29 de abril - quarta-feira – 16 horas

Ênio (Leonardo Medeiros) é um engenheiro de trânsito que comanda o fluxo de carros em São Paulo. Ele possui uma mania de controle que também se reflete em sua casa, onde suas ações são extremamente controladas. Ele se surpreende quando reencontra Mônica (Graziella Moretto), sua ex-mulher, que lhe diz que sua filha Bia (Rita Batata), de 16 anos, deseja conhecê-lo.


Squat, la ville est à nous (França, 2011, 94 min) dir. Cristophe Coello

29 de abril - quarta-feira – 19 horas

30 de abril – quinta-feira – 16 horas

Estamos em um bairro de Barcelona, vítima da especulação, mas a cena poderia ter lugar em qualquer cidade importante do Mundo. Gentrificação, rendas exorbitantes, operações de reabilitação para "remodelar" a população de um centro ou uma rua na cidade: move-se o espectador dentro de um terreno familiar. O filme é uma proposta de luta coletiva contra um concreto sangrado e sistemático.


Manhattan (EUA, 1949, 96 min) dir. Woody Allen

30 de abril – quinta-feira – 19 horas

Um escritor de meia-idade divorciado (Woody Allen) se sente em uma situação constrangedora quando sua ex-mulher decide viver com uma amiga e publicar um livro, no qual revela assuntos muito particulares do relacionamento deles. Neste período ele está apaixonado por uma jovem de 17 anos (Mariel Hemingway), que corresponde a este amor. No entanto, ele sente-se atraído por uma pessoa mais madura, a amante do seu melhor amigo.


Fonte: Departamento de Difusão Cultural da UFRGS, Coordenação e curadoria da Sala Redenção – Cinema Universitário: Tânia Cardoso de Cardoso.

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