domingo, 17 de agosto de 2014

Crítica: O MERCADO DE NOTÍCIAS ‏, ‏através de Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


No seu mais novo documentário, o cineasta Jorge Furtado (Meu Tio Matou um Cara) cria um paralelo entre o mundo jornalístico de ontem e o de hoje, através de entrevistas de profissionais da área (dentre eles Bob Fernandes, Mino Carta e Geneton Moraes Neto) e fazendo uso de uma peça teatral (escrita pelo dramaturgo, poeta e ator inglês Bem Jonson), que é o que dá o nome ao documentário. Foi através dessa peça que Jorge Furtado teve inspirações para criar o documentário, reunindo os mais renomados jornalistas da atualidade.

Na visão de Jorge Furtado, o jornal da época dos tempos de chumbo, comparados com os de uma década atrás, não eram muito diferentes entre si. Sendo que eles somente tiveram um lado mais oposicionista no momento que Luiz Inácio Lula da Silva se tornou Presidente da Republica e se tornando “por alguns meios jornalísticos” alvo de piadas por ele simplesmente não ser uma pessoa vinda de uma classe superior. Outro bom exemplo foi o caso do mensalão, em que boas partes dos meios de comunicação fizeram a caveira de cada um dos acusados, sem ao menos ter um conhecimento completo das acusações que eles estavam sofrendo. O que dá a entender, é que o jornalismo atual não dá exatamente uma notícia legítima, ou simplesmente ela existe somente através de terceiros. A questão se torna pior quando os meios jornalísticos ajudam os candidatos em determinadas eleições. Belo exemplo é o caso de anos atrás, quando José Serra estava sendo candidato para eleições de Presidente e acabou tendo a testa machucada (segundo dizem) por alguém de outro partido durante uma manifestação. A cena foi captada por diversos meios de comunicação (vide SBT e Globo) e devido ao ocorrido, acabou fortalecendo a imagem hostil do outro partido. Contudo, numa cena bem elaborada apresentada no documentário, Jorge Furtado reuniu todas as imagens das emissoras, que captarão o momento da agressão, e percebesse que a única coisa que atingiu ele foi uma bola de papel e vinda do seu próprio segurança. Ou seja, em vez das emissoras terem noticiado uma manipulação, simplesmente compraram a ideia da agressão vinda do outro partido.

Sendo assim, vivemos num mundo jornalístico que quem paga mais tem a notícia publicada, que por vezes manipulada e sobra para o cidadão ler algo deveras suspeito para dizer o mínimo. A situação beira ao hilário, quando um jornalista lança um furo de reportagem, mas que às vezes, a matéria é claramente candidata em ser mentirosa. Em uma de suas reportagens, com um tom levado mais para o humor, Jorge Furtado destacou o “Picasso do INSS” que mais tarde se descobriu ser uma verdadeira mentira. A história já é de algum tempo, sendo de março de 2004. O jornal Folha de São Paulo havia publicado na capa de sua edição de domingo com a seguinte chamada: “Decoração burocrata”, matéria essa que falava sobre uma valiosa pintura do pintor Pablo Picasso que se encontrava debaixo de luzes e em meio à montanha de papeis de uma repartição do governo federal. Furtado resolveu então com bom humor descrever o sentido de sua matéria: “os novos ocupantes do governo federal não reconhecem e não sabem lidar com o valor da arte”. A pintura nada mais era do que uma reprodução fotográfica, sem nenhum valor, da pintura original de Picasso, o que gerou uma imensa repercussão na imprensa. Porém, os jornais, mesmo alertados sobre o erro, preferiram não desmentir a informação.

Exemplos como esse e outros são uma representação de inúmeros jornalistas, que vão à caça de informação, mas que por vezes não dão uma notícia legítima para o leitor. Eles vão somente por algo que vá dar audiência na rede ou um aumento na venda do jornal imprenso infelizmente. Mas como um dos jornalistas entrevistados durante o documentário disse que, se houver um profissional que vá atrás de um caso a fundo em busca de fatos realmente concretos, independente das decisões que possam vir depois dos seus superiores do jornal, esse jornalista irá sim ser reconhecido e sempre será procurado por um publico que busca realmente pela verdade.

Outra questão muito debatida durante o documentário é como a imprensa se comporta em meio às inúmeras informações que escorrem a cada segundo pela internet. Um bom exemplo disso é quando eu soube da morte do ator Robin Williams: eu estava na frente do computador, quando um contato meu postou em sua linha do tempo no facebook à morte do astro publicada num site americano. Minutos depois eu viria a ler uma nota oficial de um site conhecido daqui. Ou seja, eu soube de uma noticia publicada por um usuário qualquer e não de um jornalista oficial, sendo que o primeiro foi mais rápido, mesmo não tendo ganhado nenhum centavo com isso e o jornalista profissional, mesmo sendo pago pela publicação, teve menos audiência por ter sido menos rápido. Essa montanha de informações que disparam a cada segundo pela rede faz com que os meios de comunicação, tanto da internet como os jornais impressos, corram rapidamente para se atualizarem e encontrarem um meio para ganhar algum lucro antes que seja tarde demais. Infelizmente a pressa é a inimiga da perfeição, pois atualmente inúmeros jornais de ponta se encontram numa espécie de reestruturação, optando em publicar no jornal impresso somente noticias que dão mais audiência em suas paginas oficiais pela internet e que por vezes são banais e dispensáveis. Exemplos como esse é que fazem com que o futuro jornalístico brasileiro se torna uma incógnita, sendo que o quadro não é pior, porque nós termos justamente (para o bem ou para mau) uma internet livre, com direito em lermos inúmeras noticias sobre o mesmo tema.

Embora seja um tema sério, O Mercado de Noticias é um documentário deveras educativo, divertido em alguns momentos e que deve ser visto e revisto por pessoas de todas as idades e classes. Mas acima de tudo, deve ser visto por aqueles que buscam as reais informações que surgem no mundo que nos rodeia.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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