domingo, 20 de abril de 2014

Crítica TATUAGEM‏, por Marcelo Castro Moraes.


Fonte: www.google.com.br/imagens


Hilton Lacerda saiu consagrado nos festivais de Gramado e Rio com o seu filme Tatuagem, obra que se tornou rapidamente uma das mais elogiadas do ano, cujo seus criadores não se importam nenhum pouco em incomodar um publico mais conservador e hipócrita. Mas é para isso que veio Tatuagem: cutucar, incomodar e trazer um frescor de maior ousadia que por vezes faz falta no nosso cinema atual. Antigamente (anos 70 e 80) sexo e outros temas pesados eram bem mais vistos, e olha que estamos falando de um período que ainda existia a Ditadura que ditava as regras da cultura.

Esse clima mais sujo e ousado de antigamente começou a renascer a partir de obras como Amarelo Manga, Febre do Rato e Baixio das Bestas, que embora sejam dirigidos pelo genial Claudio Assis, as tramas foram roteirizadas por Hilton Lacerda, que agora estreia com estilo neste filme que deu o que falar no festival de cinema gaúcho. Embora lembre alguns elementos vistos nos filmes citados (principalmente Febre de Rato), Lacerda optou por criar um clima mais romântico, mas não menos sensual e em meio à ditadura do final dos anos 70. Tatuagem acompanha um grupo de artistas itinerantes que se apresenta de maneira ousada, sendo boa parte deles travestidos e formados por gays, cujo líder do grupo denominado Chão de Estrelas é Clécio, vivido por Irandhir Santos. Em meio àquele mundo estranho para os olhos da grande maioria, surge um jovem soldado que se torna á menina dos olhos de Clécio, Fininha, vivido por Jesuíta Barbosa.

Não é preciso ser gênio para saber que ambos irão se apaixonar, mas que acabaram vivendo um conflito, com o fato de que Fininha possa ser ou não um espião infiltrado no grupo de artistas. Curiosamente, Clécio tem um filho com uma mulher e ambos continuam sendo amigos, além do primogênito gostar de assistir os shows que rolam a noite. Sinceramente, não me lembro de cenas tão ousadas de sexo entre homossexuais do nosso cinema, desde Madame Satã e também lembra bastante as primeiras obras de Pedro Almodóvar como A Lei do Desejo.

Acima de tudo, o filme bate na tecla sobre questões liberdade, direito de ir e vir e expressar a opinião dos personagens através da arte da interpretação. Talvez a passagem que melhor represente essas caracteriza, é no momento da cena Polka do Cu que faz parte da peça deles. Chocante, engraçada e corajosa, diga-se de passagem.

Fora isso, o filme é recheado de boa musica que embala os momentos românticos da trama: em “Volta”, cantada por Johnny Hooker; a versão de Esse Cara, de Caetano Veloso, cantada por Irandhir; A Noite de Meu Bem, de Dolores Duran, tocada na primeira dança do casal de protagonistas, entre outras canções selecionadas e/ou compostas por DJ Dolores.

Como não poderia ser diferente, Irandhir Santos rouba o filme como um todo e coloca muito bem no seu bolso. Interprete de imenso talento, Santos, havia chamado atenção em Tropa de Elite 2, se consagrado em Febre do Rato e mais recentemente interpretando um misterioso vigilante no já clássico O Som ao Redor.

Apesar de ser um filme fora do convencional, Tatuagem é uma produção que merece ser vista por todos, pois embora seja um retrato de um grupo de pessoas perante aos últimos anos da sombra da Ditadura, não há como não comparar com a situação de algumas partes de nossa política conservadora atual, que possui uma mentalidade atrasada e muito falsamente correta.


Trailer

Fonte: www.youtube.com


Fonte: Marcelo Castro Moraes - Crítico Cinematográfico.

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