terça-feira, 13 de novembro de 2012

Em Elefante Branco, Pablo Trapero segue caminhando em direção ao cinema-de-reivindicações.

Fonte: www.google.com.br/imagens

Depois de chegar ao auge do seu cinema de transformação de espaços em Leonera, o diretor argentino Pablo Trapero (Família Rodante) dá com Elefante Branco (Elefante Blanco) mais um passo em direção ao cinema de "grandes temas" e de preocupações sociais pontuais, processo iniciado no seu longa anterior, Abutres.

Se Abutres tratava do cruzamento entre os acidentes de trânsito e a indústria de indenizações de seguros em Buenos Aires, em Elefante Branco Trapero deixa a rua, com suas imprevisibilidades, e retorna - como em Leonera ou, em menor medida, como em Nascido e Criado - a um confinamento: o elefante branco do título.

Trata-se de um edifício gigantesco em Buenos Aires projetado nos anos 1920 para ser o maior hospital da América Latina, mas que se tornou nos últimos 30 anos - como outros conjuntos de prédios no bairro periférico de Villa Lugano - uma imensa ocupação habitacional. Ricardo Darín e o ator belga Jérémie Renier, conhecido pelos filmes dos irmãos Dardenne, interpretam Julián e Nicolás, dois padres católicos da comunidade, onde a guerra local do narcotráfico limita diariamente os serviços de beneficência.

A preocupação de Trapero de delimitar o espaço já fica evidente no plano-sequência que nos apresenta ao Elefante Branco, um passeio que começa dentro do edifício, desce as escadas, passa pelas vielas da favela que se estende do lado de fora, até a igreja de Julián. O argentino apresenta o local ao francês Nicolás, recém-chegado de uma experiência traumática com os índios da Amazônia peruana. Nas florestas alagadas, a Igreja de Nicolás era uma das poucas construções acima do nível da água. O fato de chover o tempo inteiro no Elefante Branco talvez seja prenúncio de uma fatalidade equivalente.

Nessa chave fatalista, Trapero não está tão interessado aqui em entender, como em Leonera, em que medida as ações dos homens definem os espaços onde vivemos. Tudo em Elefante Branco que se refere ao contexto já é dado e estabelecido (o diretor usa aéreas e zooms, vez ou outra, apenas para nos situar melhor nesse contexto, como no plano que localiza o apartamento de Julián ao lado da favela). Aos poucos se percebe que este filme está mais interessado em discutir não questões de transitoriedade, e sim valores que são imutáveis, como vocação e responsabilidade.

O fato de Nicolás ser o verdadeiro protagonista do filme, então, não é por acaso. É ele, o estrangeiro, quem questiona o sistema, os dogmas, e se posiciona como agente da mudança no vácuo deixado pelo Estado e pela distância segura mantida pela Igreja. Mais do que tentar entender a ocupação do Elefante Branco, o filme busca elaborar uma reflexão sobre o ocaso dos religiosos latinos - sempre atrás de milagres, de se legitimar como instituição - diante das questões do dia no subcontinente. É isso que faz de Elefante Branco um passo além de Abutres em direção aos grandes temas, a um cinema de reivindicações e "contrapartidas sociais".

Fonte: http://omelete.uol.com.br, através de Marcelo Hessel.

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